A vida só tem um sentido, e o único sentido que a vida tem é quando investimos nossa vida na vida dos outros, ou quando encarnamos a luta dos outros como se ela fosse nossa, a luta do coletivo. Esta é a lida do Promotor de Justiça: lutar pela construção contínua da cidadania e da justiça social. O compromisso primordial do Ministério Público é a transformação, com justiça, da realidade social.



Pesquisar Acervo do Blog

16 de dezembro de 2016

A mafiocracia brasileira: Novo despotismo


A CF/88, ao menos no papel, consagrou no Brasil o modelo de um Estado Democrático de Direito, o que, em termos simples, significa governar de forma impessoal e com respeito às leis, visando o interesse geral, na busca da igualdade não apenas formal, mas também material.

Contudo, nos dias atuais, em terras brasileiras o que temos de fato no mundo real é uma verdadeira “mafiocracia”, utilizando aqui a terminologia cunhada por Warat, que é uma forma de poder amparada pela impunidade, da impunidade dos corruptos, às práticas de corrupção, com o surgimento de atos despotismos em uma versão moderna, pois, como define Montesquieu, o despotismo é "o governo sem leis nem freios".

É triste, mas é cada vez mais difícil dizer que no Brasil de hoje estamos vivendo um Estado de Direito no sentido total da palavra, uma vez que não se nota a limitação dos poderes, seja pelas leis, seja pelos direitos dos homens. O que vale nesse jogo de poder, nessa “mafiocracia”, é defender os interesses particulares, de pequenos grupos, causando uma degeneração da nossa democracia.

É verdade que no curso da história sempre existiram tendências antidemocráticas e mafiosas por parte de alguns detentores do poder político. Porém, ao menos esses “mafiocratas” tentavam encobrir seus verdadeiros objetivos, pois, como estratégia, dissimulavam a corrupção de suas práticas e de suas almas por meio de maquiagens e discursos retóricos que davam uma forma aparente de Estado Democrático. Contudo, agora a corrosão do caráter atingiu um nível alarmante, uma vez que as tendências dessa “maficocracia” são reveladas de forma escancarada, sem qualquer vergonha e respeito ao povo.

É triste ver um Governo que age como um novo déspota, acreditando ser o ungido do Senhor, destinado a salvar o Brasil, mas que não passa de um Sassá Mutema em nova versão. É triste ver um parlamento que atua claramente com o objetivo de garantir a impunidade dos corruptos, atacando poderes e instituições por apenas estarem cumprindo sua missão constitucional. É triste ver um Governo e um parlamento que ainda não aprenderam a escutar o grito das ruas, pois, como diriam alguns juristas brasileiros, o direito de muitos se encontra na rua.

Há como superar essa “mafiocracia”? Sim! Não podemos jamais perder a capacidade de nos indignarmos, pois se isso ocorrer diante desse cenário caótico, então Thomas Jefferson estará certo ao dizer que "os homens tímidos preferem a calmaria do despotismo ao mar tempestuoso da liberdade.” 

Portanto, Indignai-vos!

Por Gustavo Senna, Promotor de Justiça no Estado do Espírito Santo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Atuação

Atuação

Você sabia?

Você sabia?

Paradigma

O Ministério Público que queremos e estamos edificando, pois, com férrea determinação e invulgar coragem, não é um Ministério Público acomodado à sombra das estruturas dominantes, acovardado, dócil e complacente com os poderosos, e intransigente e implacável somente com os fracos e débeis. Não é um Ministério Público burocrático, distante, insensível, fechado e recolhido em gabinetes refrigerados. Mas é um Ministério Público vibrante, desbravador, destemido, valente, valoroso, sensível aos movimentos, anseios e necessidades da nação brasileira. É um Ministério Público que caminha lado a lado com o cidadão pacato e honesto, misturando a nossa gente, auscultando os seus anseios, na busca incessante de Justiça Social. É um Ministério Público inflamado de uma ira santa, de uma rebeldia cívica, de uma cólera ética, contra todas as formas de opressão e de injustiça, contra a corrupção e a improbidade, contra os desmandos administrativos, contra a exclusão e a indigência. Um implacável protetor dos valores mais caros da sociedade brasileira. (GIACÓIA, Gilberto. Ministério Público Vocacionado. Revista Justitia, MPSP/APMP, n. 197, jul.-dez. 2007)